sábado, 16 de fevereiro de 2013


Aquele momento que quase viu. Ela recuou quando bateu o olho em mim. Eu estava como um cavalo de corrida na Avenida Sete. Visão delimitada, rapidez, foco e pouca lucidez. Pra uma corrida só é preciso saber ser veloz. Olhar os obstáculos que vem. As pessoas que passam. Desviar das que só podem se esbarrar em você. Se esbarrariam em mim. Mas ela estava sentada. Num instante nossos olhos se encontraram. Ainda sentada, ela recuou. Virou o rosto ao me ver. Que terá ela visto? Não pensei. Parei poucos passos à frente. Ela chegou mais rápido na largada que o mais veloz cavalo de corrida. Passou por mim e quase não vi. Talvez tivesse asas. Talvez estivesse na largada. Olhando para mim fixamente em meio à poeira e à multidão e aos sons dos pés que galopavam. Ninguém se esbarrou em mim quando parei. Voltei. 

O que ela terá visto?

Os poucos passos, a parada, o retorno ficaram presos nas horas daquele momento.

E não houve obstáculo na volta. A volta, para um cavalo de corrida, é como se esbarrar em outros cavalos. É como ter perdido o foco e razão. Virou às costas para a chegada e está na direção oposta. Indo para a saída. Não há coroa de rosas. Não há fotografias. Não há afago. De fato, um cavalo de corridas louco. O que eu acho que ela teria visto? Por que o que ela pode ter visto a fez recuar? Por que voltei?

Ela recuou e eu retornei.

Mais lento, caminho livre, perguntei: a senhora viu, não viu? A velha saudou que sim. Levantou e baixou a cabeça. Dei as costas e segui para a chegada.

O que ela viu está em mim. Eu, cavalo de corrida veloz e louco. Parei. Mergulhei num rasante. Fui ao encontro dela. Eu era aquela mulher recém-parida. A mulher torta que não cambaleia. Um passo firme no chão.