Aquele
momento que quase viu. Ela recuou quando bateu o olho em mim. Eu estava como um
cavalo de corrida na Avenida Sete. Visão delimitada, rapidez, foco e pouca
lucidez. Pra uma corrida só é preciso saber ser veloz. Olhar os obstáculos que
vem. As pessoas que passam. Desviar das que só podem se esbarrar em você. Se esbarrariam
em mim. Mas ela estava sentada. Num instante nossos olhos se encontraram. Ainda
sentada, ela recuou. Virou o rosto ao me ver. Que terá ela visto? Não pensei. Parei
poucos passos à frente. Ela chegou mais rápido na largada que o mais veloz
cavalo de corrida. Passou por mim e quase não vi. Talvez tivesse asas. Talvez estivesse
na largada. Olhando para mim fixamente em meio à poeira e à multidão e aos sons
dos pés que galopavam. Ninguém se esbarrou em mim quando parei. Voltei.
O que
ela terá visto?
Os
poucos passos, a parada, o retorno ficaram presos nas horas daquele momento.
E
não houve obstáculo na volta. A volta, para um cavalo de corrida, é como se
esbarrar em outros cavalos. É como ter perdido o foco e razão. Virou às costas
para a chegada e está na direção oposta. Indo para a saída. Não há coroa de
rosas. Não há fotografias. Não há afago. De fato, um cavalo de corridas louco. O
que eu acho que ela teria visto? Por que o que ela pode ter visto a fez recuar?
Por que voltei?
Ela
recuou e eu retornei.
Mais
lento, caminho livre, perguntei: a senhora viu, não viu? A velha saudou que
sim. Levantou e baixou a cabeça. Dei as costas e segui para a chegada.
O
que ela viu está em mim. Eu, cavalo de corrida veloz e louco. Parei. Mergulhei num
rasante. Fui ao encontro dela. Eu era aquela mulher recém-parida. A mulher
torta que não cambaleia. Um passo firme no chão.