quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Gota a Gota


As pedrinhas jogadas no balde fazem a água transbordar e cair na terra seca. A semente já foi jogada. Logo nascerá. Os frutos podres fazem o ar ficar mal cheiroso e afasta tudo que há de bom no entorno do balde. Os urubus rondam o ambiente, atraídos pelo odor. Os galhos fétidos da maldita erva trepam no balde e lhe escondem a luz e o calor do sol. Esfriam a água. Pequenas gotas de chuvas temporárias tentam manter o nível da água. Mas logo novas pedras são jogadas e a erva ganha nova força e novos frutos. Os espinhos duros e enferrujados espetam sem dó. Pequenos furos começam a se desenhar na superfície do balde. A ferrugem deixa o recipiente doente. Novas chuvas até tentam alimentar a erva buscando manter a vida do pobre balde. Em vão. Volta a trabalhar jardineiro. Pega a tua enchada e teu rastelo. Arranca a erva. Tira as pedras de dentro do balde. Deixa as núvens de inverno encherem o balde. Deixa o sol do verão aquecer a água. Deixa as coisas boas voltarem pra perto do balde. Mas se nada disso tiveres coragem de fazer... tira o balde do teu jardim. Não deixa ele se despedaçar. Prefira a saudade aos meros vestígios.


Ted Sampaio