quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Pronome Vírus



Quais foram as palavras que você disse mesmo? Não sei, todo meu pensamento de desarmonia consolidaram-se nela. Eu, cigana também dissimulada, joguei meus búzios e já sabia o que aconteceria. O tabuleiro só provou aquilo que sei há muito: meu lugar é onde eu quero. Toda vez que essa profecia não se cumpre, não importa o lugar, não importa a quantidade de almas a serem integradas à minha pelo saber feito, eu destoou, porém não descoloro. Mesmo em fundo de quintal, não importa se é a melhor tradução de mim que está sendo cantada. Retraio-me todo em fúria, pois minha única qualidade é ferida: a capacidade de escolha.

Fizeram-se trevas em meus olhos daquela maneira que só você vê. Isso é imoral ao momento que te desfaço de teu único viés de carrossel enquanto me pinto e me visto como todo sol me implica. O sol não implica em nada disso. Pinto-me e me visto sem nem saber por que. Sei porque me visto.

E continuo a beber. Minhas mãos não estão frias, meu coração não está quente. E me encho de ti a cada olhar perpassado. Está tudo claro para os réus. Esse crime me sufoca tanto quanto eu a ti. Vamos todos morrer. Mas eu já fui morto muito antes de chegar aqui. Muito antes de me levantar decidido ao que fazer naquela tarde nublada. Eu poderia mudar facilmente para a moda. Isso não me machucaria. Não arrancaria meu cérebro nem desfaria meu corpo de mim. Não seria uma alguma coisa sem leito. Mas eu sentei e bebi do que gostava, pelo que gostava como não gostava.

Engulo o sapo pouco a pouco, a cada sorriso, piada, copo de cerveja... Mas eu sei que você sentiu o odor de meu veneno. Espero que não sufoque, pois ainda não destilei uma gota. É por isso que mereço morrer, mereço viver. Crueldade viva ensinando a como viver. Danço e canto.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Agora sim a velha caminhava, apenas ouvindo sua consciência primordial. Arqueou a vista e notou, muito, muito distante, sombras. Poucas. Sua conversa consigo mesma fora afetada por murmúrios.
-Irei até elas.
Deparou-se com grandes tecidos sem cor, cortados do mesmo tamanho, ao tocá-los percebia como delineava traços, diferentes dos que sentia nas árvores às vezes tão velhas quanto ela. Seguidamente as marcas se repetiam. Tinham graça. Mas bom mesmo é abraçar uma companheira de tempo e sentir.
Quando passou desse lugar, grandes rodas se entrelaçavam movidas por seres sem rosto, silenciosamente. Como chegaria àquelas vozes e seus donos? Deveria ela continuar? Poderia continuar? Acocorou-se. Já ficara angustiada algumas vezes há um quando sem lembranças. De costas um dos homens lhe apontava em uma direção.
- Devo seguir este caminho?
O lugar dos ouvidos dele era despreenchido, arrancado, se bem notado. O apontado era bem entre duas rodas. Fizera o incalculável, não por superstição, mas por que aquilo? Era algo tão importante ? Talvez tivesse superstição: agachou-se e passou pela brecha. Entre elas suspendeu o pé e passou por outra. Untou as mãos e outra. Outra. Outra. Outra.
- Ainda estou passando?
Nuca tivera pés tão grandes.
Era como se todo seu corpo tivesse parte daquela engrenagem. E agora, onde estaria? Nem toda seu a experiência de afugentar e, por algumas vezes, correr dos cães zoadentos poderia lhe ajudar, não tinha espaço. Tudo começa a lhe encher, inchar, crescer. E nesse momento não sente mais seu pulsar. Sua força. As engrenagens não paravam, giravam, giravam e o homem que lhe apontara o caminho ficou muito atrás.
Seu rosto... A velha vira seu próprio rosto. Reconheceu sua profundidade. Estava engrenada. Seu rosto em todos os cantos, via-se em pedaços.
Teria sido melhor ficar longe disto? Como o primeiro idiota que tinha visto queria obrigar-lhe?
Seus rostos se reconheciam. A velha abriu a boca e gritou. Sua voz sobressaiu aos cochichos. Fechou os olhos e escancarou ainda mais sua boca. Estourou. Virou terra.
As pequenas vozes ainda estavam lá. Aí a velha virou pó.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Que as lágrimas corram.

É estranho, não é só do vazio que reclamo. Eu estou triste, é difícil para eu aceitar isso. Nesse momento torno-me uma espécie de lacuna, tento pescar nas lembranças algo que me faça feliz. Mas é vão. Não, a tristeza não me tomou pouco a pouco, como eu quero acreditar, eu não fui me decepcionando com alguma coisa até achar o mundo uma bosta. Eu sou uma merda. Cheguei a essa conclusão de súbito. Assim como me veio à felicidade implodir, a tristeza não tem dó. Eu quero que as lágrimas corram no meu rosto. Mas não choro. É possível saber de onde vem isso? A solidão já passou longe. É esse momento sozinho. Ele me fez o que? Não sei quê. Não é um vazio de pessoas. Estou no leito do meu lar, pessoas me cercam e, apenas certas. Também não to escrevendo pra fugir. Eu estou escrevendo por que isso é forte. Suicídio? Só o pior.

Devo escrever risos, estampar sorrisos. Não, eu vou lamber essa escuridão dedo a dedo. Como um gato toma seu banho. Vou engolir tudo, só pra saborear. Não pra estar dentro de mim, mas pelo sabor sim. Vou passar minha língua na persistente sujeira embaixo da unha, vou passar os dentes nessa infame.

Vou rir de minha tristeza, sagazmente. Não tem a ver com paradoxo. É infelicidade por infelicidade, sentimento mau a debochar de outro. Comerei os dedos e em grandes bocadas o braço. Vou arrancar cada dedo do meu pé. E quando sobrar apenas o rosto, toda a tinta se desfará.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vestuário fluvial dourado.



Êta!
Êta, êta, êta
É a lua, é o sol é a luz de tiêta
Caetano Veloso





Caminhei obsoleto sem a certeza de encontrar novos corpos ou novos seres. A proposta era descartável para meu tipo de sede. Transbordar em seres é descapar-se. É ser muito mais eu e muito mais os outros. Minhas pernas escolheram em deixar pegadas no oceano invés de embrenhar-se em busca de um gole disto para mim.

Serenou, era um presente? Um sinal? Uma prévia que despontava dois momentos antes. Ela precisava gritar, a prévia. Pequena luz atingiu meu ser. Trocou finamente. Duas palavras, uma deixa. Foi lâmpada, mas era outro sol a encontrar-se com o meu. ”Salobra ou insípida, estarei esperançando.”. Meus olhos coloridos, meu corpo multifacial estavam vestidos para Oxum, estavam vestidos de Oxum.

Com ela, desnecessárias afirmações sobre este barro que todos vêem. Ela alcançou todo meu ser e nesse conglomerado de alhures, irradiava. Deixem-me contagiá-los, é o certo. Deixamo-nos contagiar. Não houve escolha. Vapores dos mais comuns carregados das exalações mais profundas. Sóbrio de sede fiquei reticente ao toque dos lábios, até onde eles iriam? Noite adentro. Manhã adentro. Não tão aquém: dentro de mim. Por abrir e fechar de olhos enquanto o sol ainda crescesse áureo.

Destemporado o aquilo do ir chegou antes. O pequeno espelho se foi, meu motivo de não vê o que sou. E os de todos estes outrem? É que eles não o possuem ou são demasiados grandes.
Mas eu sei o que sou: meu reflexo nas águas, minha estada com a dançarina dourada. Basto-me. Não, não me basto.


Sustento-me.

Lápide póstuma de moldes da taverna

Estou sentado em uma cadeira com braços e pernas amarrados, acabei de tomar um balde com água gelada com cubas de gelo dentro. Um homem saindo den’da escuridão com um alicate puxa meu indicador e pergunta coisas.
- Eu não sei, não sei! (Não acho)
Essa bomba no meu peito bate desinforme, as cordas estão me prendendo mais e mais estão, me serrando; essa lâmpada me cega. Apesar da fração de segundos eu senti o alicate cortando minha epiderme, minha derme, alcançando meus músculos até as laminas encontrarem-se nos meus ossos. Um dedo amputado, um soco, um pescoço quebrado. Reajo da mesma maneira: concentro-me nas angustias e não entendendo nada.
Minha respiração está ofegante, um pedaço verdadeiramente meu sumiu, ao olhar para cima vejo o rosto do meu inquiridor: sou eu.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ametal

O som do impossível são passos frios essenciais de metal, zinco, aço, inveja e covardia. Cada progressão seu é mais uma corrente que me embrulha ofegante, abafante numa escuridão imensa. Meus músculos se contraem para o combate, meu coração implode de ódio a cada "você não vai conseguir, isso é impossível" ou a melhor "porque você não muda de idéia?"

Milhares de setas voam do meu corpo em direção ao infinito cantando Zumbi em jê e desfazendo esse manto mesquinho que insiste em inverter meu telescópio à sombra de uma árvore. Ainda que dispare contra o sol, contra a via Láctea eu preciso dizer que sou livre, que quero tentar, não tranque meu ser.

As flechas mais contundentes retornam rasgando o hipocentro com amor, com força. Se é música o trincar dos grilhões então o rasgar de minha própria carne é uma dança frenética entre mim e o novo universo e não há mais enigmas. Mais brilhante, mais amor dá cabeça aos pés, meu sorriso, meu sol eu sou. Sem as correntes que o mundo me deu e sem a casca que já nasci, transbordo, transcendo.

O irradiar dessa luz cega os olhos frios, e eu não me importo se essa mesquinhez se incomoda com meu corpo livre na chuva: eu sorri mesmo com todas as línguas chicoteando. É incompreensível.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Doce Sol

Sinto-me no vigor de minha idade, nunca cursei melhor os anos do que estes que se foram. Aos quinze era um menino que muito entendia da vida, até hoje me orgulho e sempre me orgulharei. Minha mãe, moça sempre bem vestida com brincos de rubi comparava-me a eles, trazia-me uma mulher mensalmente a fim de educar-me da melhor maneira possível. Lembro-me de umas ou outras e hoje vejo que eram ótimas aulas nas quais aprendi a arte de lidar com mulheres, até me parece que ela gostava delas tanto quanto eu.
Certa professora ideal nos intervalos dos assuntos tinha a certeza de me trazer a melhor diversão com seu filho, uma flor de menino. As demais passaram muito de muitas coisas. Essas me chamavam pelo nome completo, Otavio Marcelo Marechal Douqom.
Também aprendi com minha família coisas que nunca poderia ser lecionado por um único ser, no exemplo de minha querida mãe e meu pai. Com eles o diálogo sempre foi mais além, quem tinha essa prática pouco fazia. Meu pai se expressava pelos próprios olhares e gesticulações, a sua expressão predileta era levantar a sobrancelha direita rebaixando a esquerda, o que me pega na ora de certas decisões.
Formei-me bacharel em direito e fiquei muito bem colocado no exame da OAB, dentro da ética e crítica normal de meus amigos, descobrimos um breve resumo para a ética: mantenha o rosto escondido, pois assim se guarda toda a privacidade e de porta fechada o mundo se abre.
Visto essas satisfações familiares e juvenis penso que melhor lugar para desempenhar meu papel seria com certeza a banca representativa do povo para o executivo local. Somente neste posto poderei usar das palavras que preenchem meus ofícios: solicitação...
Nota-se que há presenças especiais na minha vida e a academia não poderia deixar de tê-las, caso que me contribuiu muito para que eu entendesse mecanismos do processo eleitoral, um rapaz muito mal compreendido. De forma que me aconselhou em todo o curso, é simples, devemos ser capazes de flexionar nossos conceitos, liberar conceitos e assim criam-se conceitos.
Na minha campanha defendo pontos especiais, tendo como principal a educação, é notável minha ligação com ela, vejo na educação uma maneira única de criar conceitos e aumentar os que já possuo, haja vista que meu publicitário sempre me indicou dar conceitos aos necessitados que dessa maneira conseguiria minha candidatura com toda a certeza. Mas toda essa capacidade intelectual que possuo me fez transcender essas relações simples, tudo é conceito. Saúde, trabalho, as mais diversas atividades humanas podem geram os tais.
De maneira que a seqüência aqui posta sempre faz todo o efeito, primeiro vejo se é uma mulher, olho-a como meu pai e no momento advindo dou-lhe conceitos. Assim que sair os resultados das urnas e minha experiência dentro da câmera se consolidar tenho a certeza de escrever um livro que implicará na vida dos homens como eu e que o mundo esta cheio.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Aspas em crise

Definitivamente o inconsciente das luas me é trágico. O demônio que me carrega e da função a todos os meus sentidos se apodera do meu corpo inconsequentemente com revoltas que só percebo ao raiar do dia. Não, não preciso me masturbar.
Ele almeja tudo e tanto e tão forte que nenhum espaço capta meu movimento elíptico: pernas cruzam, o rosto se vira, mas não tem jeito, meus olhos cedem sempre. São uns fracos, olhos de um louco, acham que tudo que existiu pode ser contemplado. São novamente 4.30 h do dia anterior, essa epopéia me ilude fazendo consideração que o gosto ruim da minha boca ou a bexiga cheia sejam agravantes, não custa nada tentar. Levanto, escovo os dentes, procuro não mijar em favor da anjo que ressoa ao lado. Ele deve esta rindo agora.
Dirijo-me ao me âmago na espera que me seja cômodo e aquilo vem. Já começo a ouvir a primeira missa, ou reza diária do televisor do meu visinho, desespero-me loucamente, tento sufoca-lo durante e entre os surtos, repetindo “feche os olhos, respire fundo” ou “respire fundo, feche os olhos”. O diabo é que é astuto, não escarra nos meus olhos, esquenta-me prazerosamente pela lembrança de minha saúde. Arremata-me, me desenlaça (pensei em usar: ta no inferno, abraça o diabo, mas piada com glichê depois de três horas não tem a mínima graça) e concebemos uma semente primaria em um papelzinho bem guardado, cheio de minhas intenções.
Será que essa laboriosa delicia compreende o bem acima do bem? Só assim minha alma destrancou-se do meu corpo e os atos, aquilo que fazemos, não são a primazia do cume, já são o ápice das engrenagens desconhecidas, ou despercebidas.

Grata nova

Minha mente não estava naquele lugar nem naquele momento, eu viajava entre todos os conteúdos que deveria estudar pra passar no vestibular e o milionésimo que se encontrava dentro de todos os seres, e que sequer damos atenção a essa partícula tão individualizadora. O muro era tão branco.
Na cidade da Santa, São Jorge me aparece com uma moto e já segurava o dragão nas mãos. Ele me desafiou com seus olhos, eu pressenti o que iria acontecer, meu coração já rufava como tambores e atabaques: ele vai mandar eu parar. “Bote as mãos na parede”. Não, não, certamente o santo não falava isso comigo, hesitei, olhei desesperadamente ao meu redor e novamente o muro era muito branco. Que queria ele? Me castigar pelo que? Só pode ser castigo por atrapalhar sua visão.
Eu rodopiava e dançava uma dança de mistura entre floresta e céu, os sons se tornaram mais vivos, sentia-me tocando todos os instrumentos, cada gota de suor, cada músculo, mais nada se comprava ao meu coração. Minha mente fraquejou ante a imagem daquele ser que jamais calculara que iria me chamar a atenção, tanto que ela negligenciou notavelmente o “não olhe pra mim” ou o “que você tá falando” que só um homem dessa altura poderia impor. Realmente não sabia o que estava falando, eu não pensava, mas meu coração me recorda algo que realmente parece uma prece tão moderna quanto a imagem a minha costa.
Que nome darei aos outros que chegaram e pareciam possuir em suas mãos as mesmas marcas da vitória de S.J e que os davam direitos sobrehumanos? Não sei, isso porque prestava mais a atenção nas minhas fortes pernas, não sei se devo compara-lás a bambus. A brisa me agredia naquele calor multiplicado pelo muro branco atrás de mim? Então suas mãos me acariciaram quando minha posição lembrava a do maior dos santos na terra: Jesus Cristo.
Depois dessa inspiradora aparição o primeiro passo, segundo passo, terceiro e no quarto descobri que minhas pernas não pareciam com nada sozinhas , todo o meu corpo trêmulo era o de uma moça violada. Pernas de moça. Preciso de mais um gole de mim.

Suor em noite.

Algum resquício das sombras pairavam ante a conexão que liga essas cores reclusas. Não era o som ou a embriagues desinibidora, balisa instável entre felicidades e horrores, gente fundida no rastro do sol, reflexos dos olhos ao vento. Sentenciava-se ali. Os pequenos pensadores, grandes acomodados em suas mesas brancas, são os nominadores do momento, do show. Do espetáculo.
Sentado, todo o universo faz se sentir palpável, toca, sussurra. Instiga erguer, atravessar aquilo que não tenho mais e que por não pertencer mais a mim se faz de aço. Os olhos que se movimentam, frisam em mim, não um, todos, a igualdade que tanto ameaçava, tão desdenhada, surge com bocas, cinturas e músculos. Envolve e a neblina encouraçada derrete, escorregando para o céu de onde veio, porém não leva nada consigo.
Mesmo antes do nascer do sol o grand finale da graça, mas a festa não pára. A ignorância vai com seus rostos e as sombras vão com quem pode vê-las.