terça-feira, 23 de março de 2010

O herói destinava-se a rasgar o céu com sua espada de aço, ergueu-a e alinhou seu rosto para diagonal de si. Mira fixa, caminhou no sentido afora leito. A água era tão espada para si quanto o braço para a espada. Córrego perene, mesmo sem pernas de herói, mesmo sem céu, que pesava o andar, mas garantia o refresco.
O herói suspendia suas pernas com destreza e alívio e pressão e calor e alívio e pressão e calor. Ao fim do primeiro ciclo, primeiro passo já se encontrava cansado. Revigorou forças, olhou novamente aquela imensidão e prosseguiu adiante. Segunda pisada acreditou que o fluxo entre seus braços e suas pernas era desproporcional. A espada não lhe corroia as forças como o atravessar o córrego. O córrego era tão mais suave que o metal, suas extensões aliviavam os calos do herói a toda vez que penetravam e saiam em retaguarda pelas botas do herói.
Sem tirar os olhos do céu ele caminhava. Olhos para a diagonal, seu caminho fazia algo. Uma bela silueta nas águas. Uma bela silueta no vento. A do vento ia à frente, demarcada pelo aço da espada, a do córrego um pouco a frente do que viria atrás. Mas apenas nas águas se tinha a possibilidade de fazer várias. A linha no vento não se aperceberia, bastava que se olhasse para baixo para desenhar diferente a da água.
Mais próximo estava do céu. Isso ele enxergava. Subia algo, mesmo desgastado. O maior sintoma foi quando percebeu a água do córrego nos seus pés. Já não estavam nem na canela. Poderia dirigir-se para qualquer lugar agora. Tinha a idéia do que foi para ter sido, para ter chegado. Seu braço quinqüagenário ainda em riste, já não sentia a curva do ar em movimento. Ouvia-se apenas um ruído como da força do ar passando por um cano oco. Um cano oco em diagonal para a imensidão do azul-cordefinida.
Valeria a pena o próximo passo além córrego? É que havia azul demais na vista do herói. Queria o prata de sua espada, essa seria a cor do céu quando o afligisse com o aço firme. Todo prata deposto o todo azul.
Flexionou os joelhos para o grande salto. Contraiu-se mais, nada que chegaria a um feto. E mais, e quando seria hora? Foi jogado afora leito. Sem pernas, sua espada fincou em algo firme, seria o céu? O leito ainda estava azul-corindefinida.
Só se ouvia o som do vento entrando por dois canos como se fossem pernas. Passando por um tronco, como se fosse o tronco. Regressando de um cano, como se tapado por aço de espada. Saindo de algo como um pescoço. Decrépita madeira se desfez em pedaços.