'Capela D'Ajuda já deu o sinal'
Bem
colado no corpo. Andei com uma seta até a Igreja D’Ajuda. Saí acompanhada de
uma bruxinha. Estava de salto quinze, meias arrastão até o meio da coxa.
Maquiagem pesada. Tope. E uma blusinha pegada no corpo. Ela escolheu sair de
preto e branco. Eu fui com O vestido tubinho vermelho – que deixou as pernas
cabeludas à mostra. “Salto quinze pra andar nesse asfalto, nem pensar”, decide
antes de sair de casa. Atravessamos a Ponte D. Pedro II antes do sol raiar. “Tá
aproveitando”, ouvi de algum cafuçu no início da ponte. Era Embalo D’Ajuda.
Terno da Alvorada.
As vadias iriam tomar conta da rua.
As vadias iriam tomar conta da rua.
Paramos
na frente da Igreja D’Ajuda e ainda não tinha sinal de outras. Meu coração
palpitou. Senti o frio da madrugada. A incerteza se outras viriam. “Isso vai
furar”, pensei. “E aí, tô gostosa?”, me perguntou outra vadia. Essas eram
piriguetes. Não reparei bem no modelito delas.
“Cadê o restante do pessoal?”, me perguntou. “Tão por aí, perdidas”,
respondi. Onde vai ser o encontro?. No embalo. A bruxa ficou insegura.
Paramos
no bar de Seu Lomba. Tomamos algumas cervejas até avistar a descida da fanfarra
para o Caquende. Chegaram o Gato e a Vagabunda. “Uma prostitua de luxo”,
pensei. O Gato ficava na coleira dela. Altos. Já estávamos em Marcha. A
primeira parada foi na Igreja do Conjunto do Carmo. Quando a Fanfarra desceu
para a Rua dos Bregas, encontramos as demais. Fotos. Faixas. Cartazes. Corpos
pintados. Corpos másculos sob vestidos coladíssimos. Corpos femininos sob
poucas roupas. Ninguém era de ninguém. A excitação começou a tomar conta da
rua. Subimos e descemos as ladeiras da cidade histórica e heroica. Sob o sol
escaldante das sete horas da manhã a Padilha tomou conta de mim.
Era
mesmo eu? O que mais estava presente no Embalo? O que mais estava presente
comigo?
Girei
a cidade sob o vestido vermelho.
Geisy
Arruda compareceu à Marcha. “Expulsa da Uniban”, trazia numa plaquinha.
Panfletária. Por um momento paramos de Marchar. Quando a fanfarra fez silêncio,
no alto da Rua da Feira. Os homens da fanfarra tomaram uma cerveja. Nós
recitamos um jogral. “No Brasil”, alguém dizia. “No Brasil”, repetíamos. “Uma
mulher é morta a cada”... e nós repetíamos. Acabou a cerveja, tomamos conta da
rua.
Eu
era a própria Cabeluda. Uma mulher com pernas sem donos. No gira gira terminei
com os pés doloridos. Mas O tubinho vermelho, ele ainda está intacto.
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